segunda-feira, 23 de maio de 2011

Passa (?)

Como diria Caio F. Abreu, "vai passar". É difícil nos primeiros dias, nas primeiras horas, nos primeiros minutos... Mas vai passar. O frio na barriga antes de começar é o mesmo antes de terminar. Mas as conseqüências do fato são como margens opostas de um mesmo rio. A aflição, o remordimento e a falta de ar são sentimentos decorrentes do ato já consumado. O dia demora passar. Mas é assim mesmo. As nuvens parecem ficar estáticas a te olhar lá de cima. E tu se perdes em teus pensamentos vagos. Perdes visão a um palmo do próprio nariz. Mas vai passar.
A incerteza se torna inquilino do corpo e da alma. A calma que tanto sonhavas ter (depois do término) não veio. Mas vai passar. A vontade inquieta de ligar é normal. Irreconhecíveis são os dedos de tuas mãos, que se enroscam uns nos outros, como se cinco em cada mão não fossem suficientes. E realmente não são suficientes para contar quantas vezes já olhastes no relógio e ainda são 7h30 da manhã. Infelizmente o tempo anda muito devagar. Mas vai passar e tu sabes disso. A vontade que tens é de estar em coma e só acordar quando já tiver passado a dor.
O amor dá lugar a incerteza. E a incerteza dá carona a desconfiança e a falta de lucidez. O olhar perdido e sem foco também é normal. A cabeça não acompanha os movimentos do corpo. O pensamento está aéreo, vagando aí dentro de tua mente, viajando pra longe daqui, com passagem (apenas de ida) para Deus sabe lá onde. Ah, pensamento retrógrado! Pensamento que te faz perder a noção de tempo e espaço. Se soubesses o quanto te queria longe daqui. Já não consegues juntar duas frases com coerência. A falta de percepção das coisas parece ser de nascença. Os olhos passam a ver o mundo com estapafúrdia diferença. As pálpebras se enxáguam com freqüência. Mas vai passar.
A mudança de rotina nunca foi tão nefasta. Pela primeira vez em muito tempo começas a traçar novos planos, desenhar novos projetos. Praticar esportes, devorar um bom livro, voltar a desenhar, voltar a escrever, ou até mesmo reencontrar amigos que deixastes pra trás durante todo esse tempo. Agora será essa a tua rotina: encontrar refúgios que não te remetam ao teu passado. Quem sabe possam sepultar essas lembranças que tanto te machucam? E assim, vais tentando seguir em frente. Como diria Drummond, a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional. Que tua dor seja efêmera e que não torne mais a te aborrecer.

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Esse belo texto foi escrito por um amigo, o Alisson Rodrigues, há dois meses. Ele me mandou e eu quis muito compartilha-lo. Espero que vocês tenham gostado tanto quanto eu.