quinta-feira, 29 de julho de 2021

Síndrome do ninho vazio - irmã

 28 anos morando perto. Nossa vida toda - até agora - com residências sempre na mesma cidade, a no máximo 15 minutos de carro de distância (porque quilômetros valem nada no Distrito Federal).

Já morei muito distante de todos da minha família, até de dona mãe e de dono pai, mas nunca da minha irmã. Desde quando éramos um conjunto bem pequeno de células que estamos juntas e a sensação sempre foi de ter um pedaço de mim fora do meu corpo. E aí agora ela vai para longe de mim por tempo indefinido pela primeira vez. Eu não sei o nível de egoísmo por estar chateada com isso, mas é algo natural, eu acho. Nunca é fácil dizer tchau e é muito mais difícil quando alguém do seu cotidiano semanal deixa de ser semanal do nada.

Foram anos e anos até a gente conseguir desenvolver essa parceria e amizade que temos hoje e talvez a maior parte da chateação venha daí: o medo de perder a melhor relação que eu construí na vida. Porque não significa nada nascer na mesma família... para um laço forte é preciso trabalho, dedicação, insistência, resiliência, pelo menos um pouco de harmonia e muita força de vontade, que foi o que a gente mais teve pra manter tudo em pé.

No dia 28 de maio de 2013 eu escrevi uma coisa e não sei se algum dia vou conseguir me expressar tão bem novamente, então repito:

"Hoje não é seu dia, seu (nosso) aniversário, dia do amigo ou da irmã. Hoje é só mais uma terça-feira comum nas nossas vidas. Hoje foi outro daqueles dias em que eu acordei com você se arrumando para o estágio e cheguei em casa quando você já estava apagada na cama. Mas eu queria te lembrar que eu te amo hoje também. Bastante, inclusive. Porque eu não quero que você ache que eu só te amo em dias especiais, quando você me faz algum favor ou quando mamãe manda.

Eu quero que você tenha certeza sempre de que você é minha irmã mais amada, querida e cuidada. Desde a época em que dividíamos uma barriga até hoje e para sempre. Mesmo quando eu não pego água pra você, estrago nossos jogos numa partida de buraco, largo suas coisas em qualquer lugar ou brigamos por qualquer motivo. Até quando você me sacaneia, faz drama, usa minhas roupas sem pedir ou me liga para me mandar voltar pra casa.

Ser sua irmã é uma coisa linda. É rir de nada, chorar junto, bater e apanhar no treino e revezar no volante quando a outra quer beber. Eu acho que você sabe mas eu queria reforçar tambem que você é o meu maior orgulho. Você é a mulher mais esforçada e determinada que eu conheço. Não há nada que possa te impedir de fazer algo quando você realmente quer fazer. E isso é comprovado por todas as vezes que você passou na UnB, todos os professores, alunos, pais, colegas e contratantes que você conquistou simplesmente por amar o que faz e fazer bem feito. Fora isso você ainda é linda, engraçada, um amor de pessoa, a melhor esportista nata que eu já vi, tem personalidade forte, coração mole, criatividade infinita, inteligência invejável e altruísmo inabalável. Você é admirável, xu.

Eu literalmente não aprendi a viver sem você. Nós passamos nossa vida inteira juntas e, por mim, não precisa ser diferente. Coisas bobas como você pedindo para dormir comigo depois de um pesadelo ou me amparando quando eu não parava de chorar nas minhas crises existenciais. Você tem que saber que eu sempre estarei do seu lado assim como você sempre está do meu. E não apenas como retribuição mas sim porque você é minha irmã, minha gêmea "caçulinha".

E é por essas e tantas outras coisas que você não pode pensar nunca - nem por um segundo - que eu não te amo muito. Mesmo brava, triste, #chateada, bolada ou dormindo... Eu te amo.

Sei que não sou de demonstrar isso muitas vezes e acabo fazendo você achar que eu não me importo, mas saiba: quando eu tento te morder, te torço, abraço sua cabeça ou te mantenho acordada até tarde só pra contar uma coisa besta é porque eu tô com saudade e não sei dizer. Então perdoa se eu te machucar de vez em quando... Perdoa porque sua maninha aqui não é a personificação da fofura como você. Mas ela te ama assim mesmo, tá? De verdade. Ontem, antes disso, hoje, amanhã e sempre."

A gente já não está mais na faculdade, inclusive você acabou de se formar (uhul!), não estagiamos já há muito tempo e não dividimos o mesmo teto faz alguns anos, mas só isso mudou. Todo o resto permanece, principalmente o amor e a admiração, que só fizeram aumentar.

Eu não vou morrer de saudade, mas eu sei que vai doer pelo menos um pouquinho toda vez que eu só quiser contar alguma coisa e tiver que ser pela tela de um celular. Ainda bem que perto o suficiente e que não demora muito pra gente se visitar, mas saber disso não me conforta em nada ainda.

Vai, xu, voa. Ganha mais um pouco do mundo, que é todinho seu. Vira e mexe a gente vai se ver e eu sei que vai ser como se você nunca tivesse ido. Saiba que casa pra mim é onde a gente se junta. Te amo. De verdade. Ontem, antes disso, hoje, amanhã e sempre.

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Impostora

De repente tão pequena num lugar onde quem manda sou eu. Sem nem saber como aconteceu, vi minhas mãos completamente incapazes de fazer as mesmas coisas que já faço até automaticamente, por tanta repetição. As coisas que eu mesma organizei parecem erradas. Minhas anotações e receitas grudadas na parede parecem erradas. O preparo que eu acabei de terminar parece errado.

Como alguém pode achar que eu sei o que estou fazendo? Como pode alguém confiar que eu vou dar a mesma sorte de fazer algo gostoso de novo? Quem eu sou pra divulgar um trabalho em redes sociais que eu toda vez me aventuro a fazer? Como eu posso me achar digna de cobrar por um trabalho tão amador? Será que as pessoas tem pena e por isso são tão legais comigo?

Sem saber porque, me sento no chão da minha cozinha apertada, entre o forno que a cada dia está mais temperamental e minha bancada com manchas de glitter. Perdida. Irracional. Aérea. Inoperante. Estrangeira no meu próprio reino.

E aí eu me forço a ver as fotos e a evolução do meu trabalho. Eu faço isso há mais de 6 anos. Eu aperfeiçoei minhas receitas e nunca parei de aprender. Repito que é incrível como a mente humana pode sabotar um trabalho de tanto tempo por tão pouco, por algo tão rápido. E ainda assim fica essa dúvida: será só impressão ou eu realmente sou uma impostora?