sexta-feira, 30 de abril de 2010

O poder dos livros sobre mim

Sou uma pessoa facilmente influenciável por sentimentos alheios. Detesto escrever isso, mas é verdade - de certo modo.

Talvez eu sempre soube mas hoje me dei conta de que realmente tenho uma certa inclinação pra tomar as dores e felicidades de quem se abre comigo. E o mais estranho é que percebi isso a partir de livros. Dramas adolescentes, suspenses médicos, comédias românticas, ação, aventura ou ficção pura... Todos cativam uma parte de mim com seus personagens, histórias e/ou narração (na maioria das vezes) de uma forma tão simples e fácil que nem percebo as nem sempre sutis mudanças pelas quais eu passo.

Por esses dias estive lendo Melancia, da Marian Keyes, que é um livro ótimo, muito engraçado e dinâmico. (Claire, uma mulher já não tão jovem, mas nem por isso muito madura, acabou de ter uma filha e foi deixada pelo seu marido - bem dizendo, foi trocada por outra mulher. E esse livro conta como ela se vira a partir daí. Eu recomendo!). Enfim... eu me solidarizei muito com todas as confusões íntimas, senti como se fosse uma amiga contando-me seus dramas, me identificava toda vez quando ela começava a esmiuçar um sentimento e explanar um pensamento a partir de qualquer coisa que tivesse acontecido e tudo o mais. E foram coisas assim que levantaram meu astral, melhoraram meu humor e me fizeram perceber, mesmo numa calma casa no centro do Brasil e não entre uma família européia muito louca, que as coisas podem ser legais se você permitir e estiver disposta a fazer acontecer. Me senti mais leve, sociável e carinhosa após a leitura e não reclamo!

Em contra-partida, antes dessa leitura agradável, estive mergulhada em outro suspense médico de Tess Gerritsen (os quais mamãe gentilmente insiste que jorram sangue só de olhar). Tenho 3 aqui em casa e, de uma forma geral, todos são trabalhosamente montados e mostram detalhes de cada assassino calculista de forma interessante e instigante, então é difícil me fazer esquecer a eficiente detetive Jane Rizzoli e a humana doutora Maura Isle. Mesmo seguindo uma linha praticamente contrária à de Melancia, esses livros tambem encontram eco em algum lugar de mim. Não, eu não sou uma psicopata e nem tenho gosto por ver sangue, objetos fatais, pessoas mortas e nem nada semelhante mas, com essa leitura, consigo me manter... imune (na falta de expressão melhor) a certas emoções e acontecimentos ao meu redor, mantendo-me à uma distância segura, onde posso lidar com eles sem encará-los de frente.

Talvez eu seja louca, mas muitas vezes certas leituras são o que eu preciso para manter a calma, descobrir uma solução ou achar um modo de lidar com algo. Atualmente, durante esse período de férias forçadas, não tenho tido muitas coisas para fazer e errar, então uso essas histórias como se já fizessem parte da minha vida e aprendo com elas. Espero que um dia sejam úteis, e não só essas, como todas as outras que já foram e que ainda virão.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Estagnação

Os braços e as pernas abertos, tal qual o famoso desenho de Da Vinci, deitada no chão. Sua face irredutível e indiferente, olhos voltados para o teto por pura conveniência - não havia nada mais de interessante naquele quarto.

A cada dia sentira, tentara compreender e desistira, vários sentimentos projetados em si, compartilhados ou proporcionados apesar de nenhum realmente ter conseguido ocupar espaço em sua mente por muito tempo.

Tentou lidar com a falta do que fazer do jeito que pôde e na intensidade que conseguia. Aprendeu a fazer algumas coisas e a se interessar por elas, vasculhou na lembrança momentos que pudessem tirá-la da realidade por algum tempo, ocupou-se com atividades sem resultados e com algumas obrigatórias e, por fim, quase redescobriu uma rotina (mas não chegou tão longe).

E o ânimo se foi. As manhãs, cinzentas ou claras, davam bom dia e as estrelas fosforescente de seu teto (se é que reparava em outras) sussurravam boa noite; fora isso não havia nada para delimitar o dia. Ou talvez não existisse mais vontade para fazê-lo.

Foram horas, minutos ou segundos ali, descansando um corpo inutilizado. Na verdade, tanto fazia para ela, pois sabia que o dia duraria as mesmas torturantes 24 horas cronológicas, com todas suas pausas e acelerações.