quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

O tempo que passa

Eu tenho muita consciência hoje em dia sobre o tempo. Sobre como ele cura ou deixa pra trás tudo que nos acontece. Sobre como ele é gentil e cruel ao mesmo tempo.

Já estou mais perto dos meus 30 anos do que da época em que comecei a escrever nesse blog, totalmente alheia sobre o efeito e o peso do tempo. Mas como eu saberia, não é mesmo? Eu era só uma pré adolescente passando por coisas pela primeira vez e sentindo todo o desespero de achar que 50 anos é o fim da vida.

Sim, hoje em dia é risível pensar em todas as vezes em que a imaturidade me fez agir da única forma que parecia possível no momento. É engraçado sentir vergonha de momentos que vivi e fui totalmente plena na minha forma de agir. Aquelas Brunas não existem mais, mas fazem de mim tudo o que sou hoje.

Não que seja muita coisa, afinal eu ainda passo por muitas coisas pela primeira vez, mas dessa vez torço todos os dias para que essa sensação continue acontecendo, seja por uma coisa boa ou ruim.

Eu já tenho tempo suficiente na Terra para não me lembrar de tudo o que já passou e às vezes isso me assusta. Acumular lembranças e saber que o tempo não volta é muito louco. Perceber como isso acontece com todo ser humano é ainda mais maluco na minha cabeça. 

É, ver pais e avós hoje em dia e pensar como foi para eles viverem tanto e verem pequenos seres passarem pelas mesmas experiências sem poder fazer muita coisa (afinal, cada um vive uma vida, mesmo que algumas coisas se repitam) é uma coisa que me conforta e dói.

Gostaria de ter tido uma conversa sobre o futuro quando era mais nova, mas não sei se eu teria capacidade de entender a grandiosidade do tempo e do seu passar. Não acho que conseguiria absorver a sensação de quaisquer palavras que tentassem me explicar esse maremoto que é olhar para trás e ver que muito pouco dos meus maiores problemas durariam mais do que uma semana.

Envelhecer é uma dádiva, mas saber que essa vida e essa juventude não duram para sempre é uma porrada que mesmo hoje eu me recuso a levar. Pensar que meu corpo, músculos, voz, cabeça e pensamentos nunca serão iguais ao passado ainda causa uma ansiedade, mas me faz lembrar de como eu sofria com tudo isso quando hoje olho para a Bruna antiga e ela me parece perfeita.

Todos os dias eu me esforço para aproveitar cada segundo e gravar com carinho as boas coisas que me acontecem, mas eu sei que ano que vem já não saberei quase nenhum detalhe de nenhuma cena. Tagarelar sozinha aqui continua sendo uma terapia e isso é bom. Escrever é colocar em frases a sequência de imagens que passa na minha cabeça e eu espero no futuro olhar para todas essas postagens com mais carinho e respeito do que consigo fazer hoje em dia.

Por mais que algumas experiências se repitam, eu sei que nunca mais vou ser exatamente essa Bruna pensando sobre o tempo. Inclusive, espero que não. 

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

#9 Aeroporto

 A vida inteira eu fui muito acostumada dentro da família a ninguém precisar depender de transporte particular ao chegar e voltar de uma viagem. Fosse de ônibus ou de avião, a chegada na cidade onde morávamos contava sempre com uma cara familiar no meio da pequena multidão aguardando na saída do desembarque.

Às vezes era minha mãe, muitas vezes era meu pai e já houve casos em que era minha irmã. O momento de voltar pra casa incluía aquele aceno com as mãos dizendo "estou aqui" ou um cartaz bobo com meu nome apenas pela diversão. Eram momentos em que eu sempre me senti amparada, principalmente quando era mais nova e achava qualquer aeroporto grande e confuso demais, mesmo quando estava acompanhada de alguém da família.

Meus privilégios me permitiram viajar de avião várias e várias vezes nesses meus quase 30 anos e diversos desses encontros me marcaram de alguma forma, mas hoje numa conversa eu me lembrei especificamente de uma viagem à trabalho em que eu chegaria sozinha, para uma casa vazia.

Meus pais já não moravam mais na mesma cidade que eu e minha irmã, que dividia a casa comigo, tinha acabado de ir viajar para ficar com eles. Descendo do avião eu lembro de sentir que estava sozinha e no quanto seria estranho ter que descobrir onde pegar um uber ou táxi para ir pra casa. Eu até havia pensado de pedir para alguma outra pessoa me buscar, mas não queria dar trabalho. Passando pelo desembarque vieram as lágrimas, porque eu sou uma manteiga e choro por qualquer coisa, mas segurei com uma fungada e segui meu caminho.

Mesmo andando cabisbaixa, quando a porta se abriu eu vi o Paz e a minha memória não me deixa ter certeza se ele estava segurando uma flor ou não, mas isso não era realmente importante. Nessa hora as lágrimas vieram de surpresa e eu me senti amada como todas as vezes antes que voltei pra casa. Eu senti uma gratidão enorme por um gesto tão simples e pequeno, que só atendia a um capricho.

É uma daquelas lembranças que ficam flutuando ali na memória sem realmente se apresentarem, mas ela vem como um abraço quentinho de um momento difícil. Sou muito feliz por ser capaz de lembrar dessas pequenas coisas do nada e muito grata por ter tido momentos tão bons na minha memória.