terça-feira, 22 de dezembro de 2020

#6 Vó - O bom dinossauro

 Minha vó amava assistir filmes de desenho. Achava tudo uma graça, principalmente quando envolviam animais falantes ou histórias com animais. Eu, como principal parceira da "véia", assistia vários junto com ela e até indicava alguns quando estávamos longe.

Um belo dia ela assistiu "O bom dinossauro" e falou pra minha mãe que eu ia gostar do filme e precisava assistir. Achou tanto isso que me mandou mensagens no whatsapp falando do filme e eu prometi que procuraria. "Está passando no telecine direto", ela disse, mas eu não tinha acesso aos canais pagos e prometi que assistiria quando saísse no Netflix.

O tempo passou e dona Elisabeth assistiu sabe-se lá quantas vezes o tal filme do dinossauro. Sempre lembrava de mim, sempre dizia que eu precisava assistir. Já chegou a me mandar mensagem quando passou acidentalmente pelo telecine e estava transmitindo: "Bru! Começou agora no telecine... coloca aí pra assistir", mas eu continuava sem acesso ao canal, não tinha o filme em outra plataforma e mais uma vez ficava na promessa.

Era 12 de abril de 2019 quando eu descobri que ela estava hospitalizada e o início do fim começou pra mim, sem nem ideia de que teríamos apenas mais 4 meses. Todas as vezes que fiquei fazendo companhia para ela, fazia planos de conseguir baixar o filme na internet para assistirmos no hospital. Nunca deu certo, até porque eu sempre fui péssima para downloads do que quer que fosse.

Quando ela voltou pra casa, nas poucas vezes que consegui pegar um avião para ir vê-la, passávamos mais tempo aproveitando a presença uma da outra, fazendo graça das situações e distraindo sua filha, minha mãe, de tudo que estava acontecendo.

Até hoje não tive estruturas para assistir o filme do dinossauro, mas até hoje lembro de dona vó apenas por ver uma imagem do filme. Não sei se um dia terei coragem de assistir e ainda sinto culpa por ter sido uma promessa em vão, nunca cumprida. É uma lembrança feliz e triste que eu sempre vou guardar com peso e leveza

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

#5 Ed

Noite de eclipse. Eu nunca podia fazer nada, mas dessa vez meus pais deixaram eu ir sentar na calçada da esquina e ver enquanto a Terra escondia a Lua por momentos. Quase vizinhos, o Ed topou me acompanhar nessa e fomos. Ed, que era Rodrigo mas cortou o cabelo engraçado e nunca mais foi apresentado de forma diferente por mim.

Já não me lembro quanto tempo ficamos sentados na calçada aquela noite, mas foi o suficiente pra rir bastante, falar da vida, assistir o eclipse, pintar a ponta do all star dele com carvão e reclamar bastante do colégio (já que apenas uma série nos separava).

Até hoje acho engraçado porque meus pais demoraram bastante pra conhecer o Ed, mas confiaram nele desde o início. Se o Ed estava, a Bruna estava bem. Eclipse na esquina? O Ed vai, então tudo bem. Primeiro show da Bruna? Só se o Ed for com ela. Carnaval de rua? Combinei com o Ed, encontro ele lá. Festa de fim de ano no parque da cidade? Ed dirigindo, tá tudo sob controle.

São tantas memórias com esse meu melhor amigo da adolescência que eu nem me recordo unicamente de uma história, mas sim de uma sensação. E assim foi por alguns anos, até que a vida aconteceu e nossos caminhos se desviaram um pouco, então mal encontro o Ed mais.

Independentemente, acho que não importa quanto tempo passe, Ed sempre foi e sempre será tranquilidade, confiança e risos (e um pouco de revolta). Pra sempre Ed, da sempre Tampinha.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

#4 Mimosa

Sábado em um final de semana qualquer, durante algum período da primeira metade da faculdade.

Por qualquer motivo, pareceu uma boa ideia ir passar a tarde na chácara da família da Lili e tomar um banho no riacho, já que estava em época de seca e muito calor. Carlinha, Liliane, Jéssica, Maria Jéssica, Sarah e eu. De todas, claramente eu era a que menos tinha noção de natureza.

O dia teve vários pontos altos e baixos. A viagem para chegar na chácara, as piadas e histórias interessantíssimas e sem fim de Carlinha e Majeh, o riacho tão seco que mal dava para se banhar, as fotos tiradas com câmera digital, o brigadeiro de fim de dia feito pela Jéssica. Apesar de tanta coisa ótima de guardar, a lembrança fixa na minha memória é sobre o pasto.

Saindo da casa em direção ao riacho, o caminho mais curto passava no meio do pasto de algumas vacas. Lili disse: "andem devagar, sem pressa, não olhem pras vacas e não tenham medo". Sim, claro. Fomos em fila espaçada. Sendo a penúltima a passar, lembro claramente de estar mais preocupada em não pisar em cocô de vaca do que de realmente me cuidar com elas.

O caso é que provavelmente meus desvios descuidados chamaram a atenção de uma das donas do pasto, que resolveu passar na minha frente. Momento de tensão, corpo congelado, olhar fixo nos chifrinhos miúdos aquela vaca tinha. Do outro lado da cerca começam as instruções de Liliane: "Bru, FICA PARADA! Ela vai sair daí jajá". Enquanto eu tentava me lembrar como respirar sem fazer barulho, minhas amáveis colegas de turma (já em território seguro) começaram a fazer barulho para chamar a muralha que tinha se colocado entre mim e o riacho.

Foram longos e poucos segundos que hoje em dia me trazem risos leves, transformando em ridículo o pico de adrenalina que precisei controlar para seguir os poucos metros até a cerca antes de começar a rir como uma sobrevivente. Esse é o tipo de lembrança que nem parece minha mas eu fico muito feliz por ser!

terça-feira, 15 de setembro de 2020

#3 Novos gostos

Era um restaurante de sushi que eu nunca tinha ido. Enquanto Pedro falava comigo, eu estava dividindo minha atenção entre a conversa, o cardápio desconhecido e o fato de que eu nunca tinha provado nada da culinária fria japonesa que não fosse de salmão ou de camarão.

Era meio vergonhoso, visto que tinham vários peixes no cardápio que eu nem sabia que eram usados pra fazer sushi. Por fim, optamos por pedir uma barca pequena e super variada (e eu me preparei para ficar com fome).

Conversa vai, conversa vem. Nunca vi alguém tão indignado por acertarem seu signo de primeira e mal imaginávamos que eu seria uma das poucas que conseguiria em algum bom tempo.

Chegada a barca, tive coragem de dizer que só gostava de salmão e camarão.

Acho que nunca vou esquecer do Pedro me dando uma lição que ele talvez nem saiba que até hoje afeta meus hábitos. Ele disse: "Eu normalmente não gosto de atum, mas eu nunca provei o atum daqui". E comeu. E não gostou.

Não me lembro se eu cheguei a provar o atum. Não me lembro nem qual era o restaurante. Mas eu lembro dessa frase. Eu me lembro muito.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Lunardi Doces

Todas as vezes que eu me lembro de 2015 e penso na época em que comecei despretensiosamente a fazer doces (bombons à época), me lembro da luta por um nome e uma logo pro meu "futuro negócio".
Lembro de uma vez em que gastei um bom tempo da xu e de dona mãe enquanto a gente quebrava a cabeça se deveria, ou não, ter uma referência a gatos no nome e na imagem da empresa. A ju desenhou pelo menos umas 3 opções diferentes e incríveis, com a delicadeza que ela sabe ter quando há papel e lápis em suas mãos.
Lembrar disso me faz sorrir e ter a certeza de que não havia melhor nome ou sequer outro possível que não envolvesse o nosso orgulhoso Lunardi.
De 5 anos pra cá não fui só eu virando noites, inventando coisas novas e aceitando desafios sempre que pude.
De 5 anos pra cá fomos mamain e eu indo até altas horas da noite juntas, fomos xu e eu vendendo bombons em cima de caixas de papelão e depois em cima de mesas, fomos nós 3 nos organizando, uma pra cada lado, pra que as encomendas pudessem sair.
Não sei o que seria de mim (e da Lunardi Doces) sem dona Miriam e sua habilidade com massa de biscuit e conhecimento de colorimetria. Nem imagino quantas vezes não teria sido possível terminar um bolo a tempo da entrega se não fosse ela se disponibilizando para correr a comprar algum item que eu esqueci que precisava. Tenho certeza que muitas pessoas teriam ficado sem bolo se a xu não fosse a melhor entregadora do mundo, criativa em todos os momentos e salvadora da pátria em situações onde mamain não pôde ajudar. Sem contar que com certeza eu teria desistido lá no início se não fosse o apoio constante dela e todas as vezes que me indicou por aí.
Lunardi Doces é o único nome possível porque não existiria Doces nessa família sem essa combinação de nós 3. Que sorte que eu tenho de ter uma mãe e uma irmã que me apoiam tanto. Que sorte que eu tenho de poder contar com elas. Que sorte que eu tenho.
Obrigada, mamain! Obrigada, xu! Isso nunca teria sido uma boa e longa caminhada sem vocês!

segunda-feira, 27 de julho de 2020

#2 Viviane

Existia no Rogacionista, a escola que frequentei por mais tempo, uma professora que se esforçava para tornar a literatura algo vivo e interessante. Ela cativava os alunos com poesias declamadas com emoção, resumos de livros clássicos explicados na linguagem coloquial, seus all stars como uniforme e uma paixão por questões erradas.
Em minha época de estudante, não entendi o que significava quando a professora precisou diminuir a quantidade de aulas que dava por semana. Isso fez ser bem difícil de entender o motivo pelo qual ela estava nos deixando no fim daquele semestre, já, tão rápido. Não impediu a nós, alunos e fãs, de fazer questão de uma despedida em grande estilo.
Já não me lembro o dia da semana, mas posso apostar que era quinta ou sexta-feira. Um grupo de estudantes que representava os alunos e fãs, no qual eu estava enfiada, saiu coletando folhas e mais folhas de papel A4 nas turmas onde Viviane dava aula. Eram cartas, desenhos, marcas, histórias e amor feito à mão. Até o prof. Aguinelo fez uma carta! Nós, representantes com boas notas e tempo livre justificável, juntamos tudo com fita adesiva, formando um imenso rolo.
Na hora da troca de aula, Viviane estava estrategicamente na sala do projetor. Ao sair, escoltada ao topo da escada como uma rainha, reparou as dezenas de alunos fora de suas salas, margeando o pátio no andar de cima e uma pista formada por cartas no térreo. Viviane foi aplaudida de forma alta e constante enquanto descia os degraus (incrédula? Não lembro). Lembro da emoção de estar ao final da pista, entregando uma flor de papel feita pelos meninos da sala e vendo a Andressa entregar um pé do seu próprio all star todo customizado.
Eu lembro da felicidade de Viviane ao ver uma carta de seu amor de infância e de como ela andou com a graciosidade de quem converteu centenas de almas aos livros. Eu lembro dos rostos das crianças, explodindo de felicidade e um pouco de pesar por estar se despedindo de uma das professoras favoritas do colégio. Foi mágico.

quinta-feira, 23 de julho de 2020

#1 Amanda

Um pouco antes de se mudar pra longe, Amanda salvou uma música no meu Spotify e disse "essa é pra você lembrar de mim. Eles são canadenses e eu vou estar no Canadá, aí quando você escutar, vai lembrar de mim".
A verdade é que eu nem me lembro qual música era essa e eu tenho quase certeza de que eu quase nunca escuto ela, porque não é muito meu estilo.
Mas aí eu tenho WALK THE MOON. E Carlye Rae Jepsen. E músicas de Pitch Perfect. E Cake by the Ocean. E pelo menos mais 10% das minha músicas do Spotify que tem total influência de Amanda.
E eu tenho Gravity e a lembrança de Amanda pigarreando para limpar a garganta e conseguir cantar a música a plenos pulmões, enquanto nós estávamos andando no carro dela pela asa sul. Estávamos indo levar zeldinha e bebêjork para tomar banho? Comer alguma coisa em algum lugar? Não me lembro. Mas me lembro bem dela cantando e de como eu gostei da música e do quanto eu enchi o saco dela porque lembrava um crush que ela tinha tido alguns meses antes.
Eu adoro essa memória.

Livro de memórias

Eu entendo o medo humano de cair no esquecimento e sofro constantemente com essa possibilidade. Acho que por isso, eu quero que as pessoas saibam que elas construíram memórias em mim ou que elas são parte de boas (ou más) memórias minhas. Elas serão eternas comigo, enquanto eu lembrar.
Como eu tenho tanto medo do esquecimento quanto de esquecer, resolvi começar uma série de textos para sempre lembrar. Delas e de mim, elas de mim, eu delas.
Serão memórias aleatórias e escritas com o coração, do meu jeitinho. Espero que gostem.