quarta-feira, 30 de setembro de 2020

#5 Ed

Noite de eclipse. Eu nunca podia fazer nada, mas dessa vez meus pais deixaram eu ir sentar na calçada da esquina e ver enquanto a Terra escondia a Lua por momentos. Quase vizinhos, o Ed topou me acompanhar nessa e fomos. Ed, que era Rodrigo mas cortou o cabelo engraçado e nunca mais foi apresentado de forma diferente por mim.

Já não me lembro quanto tempo ficamos sentados na calçada aquela noite, mas foi o suficiente pra rir bastante, falar da vida, assistir o eclipse, pintar a ponta do all star dele com carvão e reclamar bastante do colégio (já que apenas uma série nos separava).

Até hoje acho engraçado porque meus pais demoraram bastante pra conhecer o Ed, mas confiaram nele desde o início. Se o Ed estava, a Bruna estava bem. Eclipse na esquina? O Ed vai, então tudo bem. Primeiro show da Bruna? Só se o Ed for com ela. Carnaval de rua? Combinei com o Ed, encontro ele lá. Festa de fim de ano no parque da cidade? Ed dirigindo, tá tudo sob controle.

São tantas memórias com esse meu melhor amigo da adolescência que eu nem me recordo unicamente de uma história, mas sim de uma sensação. E assim foi por alguns anos, até que a vida aconteceu e nossos caminhos se desviaram um pouco, então mal encontro o Ed mais.

Independentemente, acho que não importa quanto tempo passe, Ed sempre foi e sempre será tranquilidade, confiança e risos (e um pouco de revolta). Pra sempre Ed, da sempre Tampinha.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

#4 Mimosa

Sábado em um final de semana qualquer, durante algum período da primeira metade da faculdade.

Por qualquer motivo, pareceu uma boa ideia ir passar a tarde na chácara da família da Lili e tomar um banho no riacho, já que estava em época de seca e muito calor. Carlinha, Liliane, Jéssica, Maria Jéssica, Sarah e eu. De todas, claramente eu era a que menos tinha noção de natureza.

O dia teve vários pontos altos e baixos. A viagem para chegar na chácara, as piadas e histórias interessantíssimas e sem fim de Carlinha e Majeh, o riacho tão seco que mal dava para se banhar, as fotos tiradas com câmera digital, o brigadeiro de fim de dia feito pela Jéssica. Apesar de tanta coisa ótima de guardar, a lembrança fixa na minha memória é sobre o pasto.

Saindo da casa em direção ao riacho, o caminho mais curto passava no meio do pasto de algumas vacas. Lili disse: "andem devagar, sem pressa, não olhem pras vacas e não tenham medo". Sim, claro. Fomos em fila espaçada. Sendo a penúltima a passar, lembro claramente de estar mais preocupada em não pisar em cocô de vaca do que de realmente me cuidar com elas.

O caso é que provavelmente meus desvios descuidados chamaram a atenção de uma das donas do pasto, que resolveu passar na minha frente. Momento de tensão, corpo congelado, olhar fixo nos chifrinhos miúdos aquela vaca tinha. Do outro lado da cerca começam as instruções de Liliane: "Bru, FICA PARADA! Ela vai sair daí jajá". Enquanto eu tentava me lembrar como respirar sem fazer barulho, minhas amáveis colegas de turma (já em território seguro) começaram a fazer barulho para chamar a muralha que tinha se colocado entre mim e o riacho.

Foram longos e poucos segundos que hoje em dia me trazem risos leves, transformando em ridículo o pico de adrenalina que precisei controlar para seguir os poucos metros até a cerca antes de começar a rir como uma sobrevivente. Esse é o tipo de lembrança que nem parece minha mas eu fico muito feliz por ser!

terça-feira, 15 de setembro de 2020

#3 Novos gostos

Era um restaurante de sushi que eu nunca tinha ido. Enquanto Pedro falava comigo, eu estava dividindo minha atenção entre a conversa, o cardápio desconhecido e o fato de que eu nunca tinha provado nada da culinária fria japonesa que não fosse de salmão ou de camarão.

Era meio vergonhoso, visto que tinham vários peixes no cardápio que eu nem sabia que eram usados pra fazer sushi. Por fim, optamos por pedir uma barca pequena e super variada (e eu me preparei para ficar com fome).

Conversa vai, conversa vem. Nunca vi alguém tão indignado por acertarem seu signo de primeira e mal imaginávamos que eu seria uma das poucas que conseguiria em algum bom tempo.

Chegada a barca, tive coragem de dizer que só gostava de salmão e camarão.

Acho que nunca vou esquecer do Pedro me dando uma lição que ele talvez nem saiba que até hoje afeta meus hábitos. Ele disse: "Eu normalmente não gosto de atum, mas eu nunca provei o atum daqui". E comeu. E não gostou.

Não me lembro se eu cheguei a provar o atum. Não me lembro nem qual era o restaurante. Mas eu lembro dessa frase. Eu me lembro muito.