sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

#10 Titico

Se alguém me perguntar eu não vou saber a data ou o dia da semana que era, mas eu vou lembrar que era uma manhã quente do início de 2012 quando eu peguei o carro para levar minha avó até o comércio da praça, que ficava umas três ruas acima da nossa. Ela sempre ia naquela lojinha de aviamentos para comprar linhas, lãs e outros itens para fazer as roupinhas que doava para famílias com crianças pequenas. Normalmente minha mãe ía com a gente, mas nesse dia éramos só nós duas e o andador da vovó.

Ao lado da lojinha tinha uma pet shop e nesse dia em específico tinha um gatinho muito novinho dentro de uma gaiola do lado de fora da loja, para adoção. Enquanto dona avó explorava seu mundo de linhas e agulhas, acompanhada pelas vendedoras que já sabiam até suas marcas e cores preferidas, eu fui olhar de pertinho aquela coisinha espevitada que havia transformado a gaiola em um "globo da morte" e ficava dando piruetas lá dentro.

Papo vai, papo vem com a funcionária da pet shop, ela me disse que o gatinho havia sido adotado e abandonado novamente e que, com a proximidade do carnaval, ele ficaria fechado no subsolo da loja porque ninguém iria lá durante o feriado.

Comecei mostrando para a minha vó como era fofo o gatinho, que tinha me dado total atenção desde que cheguei perto da gaiola, ela se apaixonou. Em seguida uma ligação para a ju: "ei, E SE eu levasse um gato pra lar temporário?" e ela incentivou. Depois disso, uma ligação para o senhor pai: "paiê, posso levar um gatinho pra ficar em casa só durante o carnaval?" e ele topou. A pessoa mais difícil estava esperando em casa, preparando o almoço. 

Cheguei com uma conversa mole sobre o tadinho do gato sozinho durante um feriado inteiro, falei em lar temporário e joguei a cartada final: "ju, vovó e papai já toparam. Só falta você deixar". Nem uma hora depois eu já estava de volta na pet shop, assinando um termo de adoção que poderia ser revogado após o carnaval, só para terem meus dados.

Assim chegou em casa um bichinho minúsculo que estava exausto pela euforia de conhecer 3 cães, uma gata e 5 novos humanos. A noite passou bem e no dia seguinte dona mãe comprou não só ração, mas também brinquedos e uma caixa de areia nova. Depois disso o gato virou Chilli (nome dado justamente pela minha mãe) e o resto virou história.

Titico já faz 10 anos este ano, está saudável e sua pelagem antes rala agora tem lãzinha por baixo. Toda vez que olho para ele eu lembro desse dia de motim dentro da minha própria casa e de tantos momentos de colinho, "beijinho" e preguiça que tivemos juntos.

Esse é o gato que me recebe na porta desde sempre, que me acompanhava no café da manhã enquanto toda a casa dormia, que sempre fez amizade com as visitas, que aprendeu a subir no beliche pra dormir comigo e que gosta mais de cães do que da própria raça. Titico, zuco, neném, Shirley, Chilli, meu pãozinho integral. Espero que ainda venham mais alguns bons anos tendo essa bolinha de pelos roncando pela casa.