sexta-feira, 18 de junho de 2021

Teto de madeira

Não era bem um quarto. Era um mezanino sobre a sala de jantar com duas saletas sem portas nos cantos. Uma delas era onde eu dormia.
Era o ambiente mais magico que eu tive durante a minha adolescência e eu amava, mesmo sem porta, mesmo com o calor que fazia por conta do carpete, mesmo com o espaco que tinha bem em cima da minha cama que permitia a passagem de luz e som do meu "quarto" para a sala e vice-versa.
O teto era inclinado, tendo seu ponto mais baixo na parede onde ficava encostada a cabeceira da minha cama, e no ponto mais alto meu pai tinha realizado meu sonho de pendurar uma daquelas cadeiras suspensas.
Eu me sentia no meu próprio sótão num pequeno chalé. Durante as insônias eu encarava aquelas ripas de madeira a pouco mais de um metro e meio da minha cabeça e me sentia longe, sozinha e em paz. A vida que aquela madeira já teve me aquecia o coração e fazia com que eu me sentisse segura e acolhida. Logo eu, que nunca fui a maior fã de estar em meio à natureza.
Eu olhava o verniz e o brilho me levava longe. Com a imaginação afloradíssima que eu tinha na época, cada reflexo que vinha do vão parecia uma estrela cadente e eu já pedi e desejei inúmeras coisas, fechando meus olhos pra poder encontrar tudo em sonho.
Aquele teto nunca pareceu que ia cair na minha cabeça. Mesmo sua inclinação não causava a impressão de que deslizaria ou de que estava perto demais. Mesmo em meio às crises, quando eu desabava de chorar, ele estava lá soltando o leve cheiro de madeira e brilhando pra mim no escuro. Eu amava aquele quarto e amava aquele teto.
Eu não sei porque lembrei lembrei disso agora, porque quando penso naquela casa me brotam tantas outras lembranças diferentes... mas aqueceu o coração nessa noite fria de junho. Espero um dia encontrar outro teto assim.