Com esforço, levanto da minha cama e desligo o pequeno rádio que estava tocando uma música triste qualquer. Estranhamente, no momento o bêbado parece mais afinado que qualquer tenor mundo afora e sua melodia, mistura de tudo que nunca ouvi, parece traduzir minha alma.
O quarto escuro está apenas iluminado pela lua minguante, pois não há postes na rua e, com a meia luz prejudicando minha visão, vago pelo quarto batendo os pés em móveis, roupas e sapatos sem ligar realmente para eles; meu objetivo é a janela e eu vou chegar lá.
Torcendo para poder avistar o meu embriagado cantor, me debruço no parapeito, procurando febrilmente pela longa avenida.
Meus ouvidos ouvem a melodia perfeitamente mas meus olhos mal enxergam o encurvado personagem no meio da rua, pouco adiante da minha sacada e de costas para mim que, iluminado pelo luar, estende uma flor branca para o céu, numa homenagem clara ao satélite mais belo da Terra.
Infelizmente, durante o breve momento em que olhei para nossa única fonte de luz, o desconhecido finalizou sua serenata e saiu trôpego pela rua, deixando a flor caída no chão. O cantor da minha alma estava indo embora com ela, e o vazio que me rondava antes agora me invadiu por inteiro.
Observo amedrontada enquanto ele segue até um certo ponto da avenida e entra em um beco que eu sei que não tem saída: lá é o fim. Com um suspiro, fecho os olhos. Então... morrer é assim ?"
bru lunardi - conto fantástico pra aula de redação.