sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

#9 Aeroporto

 A vida inteira eu fui muito acostumada dentro da família a ninguém precisar depender de transporte particular ao chegar e voltar de uma viagem. Fosse de ônibus ou de avião, a chegada na cidade onde morávamos contava sempre com uma cara familiar no meio da pequena multidão aguardando na saída do desembarque.

Às vezes era minha mãe, muitas vezes era meu pai e já houve casos em que era minha irmã. O momento de voltar pra casa incluía aquele aceno com as mãos dizendo "estou aqui" ou um cartaz bobo com meu nome apenas pela diversão. Eram momentos em que eu sempre me senti amparada, principalmente quando era mais nova e achava qualquer aeroporto grande e confuso demais, mesmo quando estava acompanhada de alguém da família.

Meus privilégios me permitiram viajar de avião várias e várias vezes nesses meus quase 30 anos e diversos desses encontros me marcaram de alguma forma, mas hoje numa conversa eu me lembrei especificamente de uma viagem à trabalho em que eu chegaria sozinha, para uma casa vazia.

Meus pais já não moravam mais na mesma cidade que eu e minha irmã, que dividia a casa comigo, tinha acabado de ir viajar para ficar com eles. Descendo do avião eu lembro de sentir que estava sozinha e no quanto seria estranho ter que descobrir onde pegar um uber ou táxi para ir pra casa. Eu até havia pensado de pedir para alguma outra pessoa me buscar, mas não queria dar trabalho. Passando pelo desembarque vieram as lágrimas, porque eu sou uma manteiga e choro por qualquer coisa, mas segurei com uma fungada e segui meu caminho.

Mesmo andando cabisbaixa, quando a porta se abriu eu vi o Paz e a minha memória não me deixa ter certeza se ele estava segurando uma flor ou não, mas isso não era realmente importante. Nessa hora as lágrimas vieram de surpresa e eu me senti amada como todas as vezes antes que voltei pra casa. Eu senti uma gratidão enorme por um gesto tão simples e pequeno, que só atendia a um capricho.

É uma daquelas lembranças que ficam flutuando ali na memória sem realmente se apresentarem, mas ela vem como um abraço quentinho de um momento difícil. Sou muito feliz por ser capaz de lembrar dessas pequenas coisas do nada e muito grata por ter tido momentos tão bons na minha memória.

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